Vários novos medicamentos para a diabetes entraram no mercado nos últimos meses. Está a tornar-se cada vez mais difícil para os prestadores de cuidados primários acompanharem a “selva” dos preparados para a diabetes. No já tradicional “Dia da Diabetes”, que teve lugar em Berna, especialistas de renome em diabetes da Suíça explicaram como funcionam os novos preparativos e que vantagens podem oferecer aos pacientes. Informamos sobre uma palestra do Prof. Roger Lehmann, Hospital Universitário de Zurique.
O conferencista começou por se dedicar aos insulinos basais. Um grande problema com estas insulinas é o aumento do risco de hipoglicémia. Por esta razão, são necessários novos desenvolvimentos para ter menos variabilidade diária na glicemia e nenhuma hipoglicémia. Uma nova preparação é a insulina Degludec (Tresiba®): Com esta insulina, formam-se di-hexameres que se combinam para formar longas cadeias de insulina a partir das quais os monómeros são lentamente libertados. A acumulação de insulina degludec não é possível porque o sistema de importação e exportação está em “estado estável” após alguns dias. Outro novo produto é a insulina glargina 300 (Toujeo®): Nesta insulina, os precipitados são muito menores – apenas um terço do volume – do que na glargina de insulina 100 (Lantus®). Isto atrasa a libertação de insulina e resulta num efeito mais estável (perfil de glicose mais plano).
Regime de tratamento mais simples – melhor aderência
As novas preparações têm a importante vantagem de reduzirem a complexidade do regime terapêutico. “Isto pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes e também reduzir os custos”, disse Lehmann. “Porque com o tratamento com insulina, quanto mais complexo for o regime terapêutico, menor será a aderência”! Muitos pacientes injectam na altura errada, uma dose incorrecta (especialmente se tiverem medo de hipoglicemia) ou ocasionalmente saltam uma dose, por exemplo, quando têm um sleepover não planeado ou comem fora. Estudos mostram que 22% dos diabéticos entrevistados tinham perdido uma dose de insulina nos 30 dias que precederam a entrevista. Isto tem consequências: “Se um diabético esquece uma injecção duas vezes por semana, o HbA1c aumenta em 0,2%. Isto causa custos de saúde mais elevados”, explicou o orador. Com uma adesão a 100%, os custos dos medicamentos aumentam mas os custos médicos globais diminuem.
Um objectivo terapêutico importante: menos hipoglicemias
Existem várias razões para flutuações elevadas da glicemia diária em pacientes individuais, por exemplo, tipo de administração, características do produto, mas também características da pessoa. A elevada variabilidade da glicemia é pouco indicada pelo HbA1c mas causa complicações microvasculares e macrovasculares. Além disso, a hipoglicémia ocorre mais frequentemente com fortes flutuações no açúcar no sangue. Estudos demonstraram que os diabéticos de tipo 2 passam em média cerca de 4% do seu tempo em hipoglicémia, o que ainda é cerca de uma hora por dia. Estas hipoglicemias têm um forte impacto, inclusive na produtividade das pessoas afectadas e na carga psicossocial para o doente e familiares. Contudo, o risco de hipoglicémia diminui se o doente utilizar uma insulina estável. “É por isso que já não prescrevo insulinas NPH”, disse o orador.
O estudo EDITION investigou como a glargina de insulina 300 (Gla-300, Toujeo®) se compara à glargina de insulina 100 (Gla-100, Lantus®) em termos de eficácia e hipoglicémia em diabéticos de tipo 2 [1]. O controlo da glicose foi igualmente bom em ambos os regimes de tratamento, mas ocorreram significativamente menos hipoglicemias nocturnas com Gla-300 durante o período de tratamento de seis meses (36 vs. 46% com Gla-100; RR 0,79 [95%-KI 0,67–0,93]; p<0,005). Este efeito já era evidente nas primeiras oito semanas de tratamento, um período em que a maioria dos ajustamentos de dose tem lugar. O Prof. Lehmann avaliou isto como um grande avanço na terapia da diabetes: “A melhoria com Toujeo em comparação com o Lantus é aproximadamente a mesma que a melhoria que o Lantus trouxe em comparação com as insulinas NPH”.
Utilização mais flexível dos novos insulinos
O orador também mencionou que os novos insulinos podem ser injectados de forma mais flexível em termos de tempo sem comprometer a estabilidade do controlo da glicose – outro ponto importante para aumentar a aderência do paciente. A sua conclusão sobre os novos insulinos:
- A variabilidade da glicose é menor e a hipoglicémia é menos frequente.
- A aplicação pode ser mais flexível, o que resulta numa melhor aderência.
- O preço dos preparados é elevado, mas em troca os pacientes têm de medir o seu açúcar no sangue com menos frequência e há menos hospitalizações como resultado de uma diabetes descarrilada.
Fonte: 6º Dia da Diabetes, 7 de Maio de 2015, Berna
Literatura:
- Riddle M, et al: Nova Glargina de Insulina 300 Unidades/mL versus Glargina 100 Unidades/mL em Pessoas com Diabetes Tipo 2 Usando Insulina Basal e Tempo de Refeição: Controlo da Glucose e Hipoglicemia numa Experiência Randomizada Controlada de 6 Meses (EDITION 1). Diabetes Care Outubro 2014; 37(10): 2755-2762.
CARDIOVASC 2015; 14(5): 22-24