Um estudo global sobre a mortalidade por cancro chega a resultados espantosos. As diferenças internacionais na leucemia infantil são consideráveis. A Suíça tem uma boa pontuação global, mas ainda tem espaço para melhorias em uma ou duas áreas.
As leucemias são um grupo heterogéneo de doenças com etiologia largamente desconhecida que se encontram entre as doenças malignas mais comuns na infância. A maioria delas são leucemias linfáticas agudas (ALL), mas as leucemias mielóides agudas (AML) na infância são muito mais raras. Desde os anos 90 – onde o inquérito começou – as possibilidades de diagnóstico e os protocolos terapêuticos sofreram de novo um desenvolvimento significativo. Contudo, a escassez de recursos e as insuficiências dos seguros limitam significativamente o acesso em muitos países e asseguram que todos os afectados não beneficiem de forma alguma dos avanços da ciência [4].
CONCORD
A análise baseia-se no chamado programa CONCORD, que já produziu uma comparação global das tendências de sobrevivência na população de crianças com leucemia há mais de dois anos [3]. Os dados tinham mostrado diferenças notáveis na sobrevivência ajustada de 5 anos de crianças com precursor TODOS (o precursor B TODOS é o mais comum na infância TODOS) entre os diferentes países – isto no período de 1995 a 2009. A análise actual visava alargar os resultados, entre outros, a mais subtipos de leucemia infantil.
Quase 90.000 crianças de 53 países
O estudo incluiu 89 828 crianças de um total de 198 registos de cancro que tinham recebido um diagnóstico de leucemia entre Janeiro de 1995 e Dezembro de 2009. Posteriormente, o curso individual foi seguido durante o mesmo período de tempo. Dados duvidosos e registos com menos de dez casos não foram considerados. O ponto final foi a sobrevivência ajustada em 5 anos, ou seja, a sobrevivência provável após controlo estatístico para mortes por outras causas, por período (1995-1999, 2000-2004 e 2005-2009) e por idade de diagnóstico (<1, 1-4, 5-9 e 10-14 anos) e por sexo.
A escala do programa CONCORD excede em muito a investigação anterior nesta área. Os autores esperam que isto desencadeie esforços internacionais e esforços de coordenação, uma vez que os resultados não deixam praticamente nenhuma pergunta sem resposta na sua clareza.
Os resultados em detalhe
É verdade que, de uma perspectiva internacional, a previsão seguiu uma tendência ascendente entre 1995 e 2009. Embora o intervalo de sobrevivência de 5 anos em todas as formas de TODOS no período entre 1995 e 1999 ainda se tenha alargado de um chocantemente baixo 10,6% (!) nos registos chineses para 86,8% na Áustria, as diferenças uma década mais tarde foram um pouco menos acentuadas, mas ainda consideráveis, por exemplo 52,4% em Cali, Colômbia, e 91,6% nos registos alemães.
No caso da AML, onde o prognóstico é globalmente pior, houve também diferenças internacionais significativas que variaram entre 33,3% na Bulgária e 78,2% novamente na Alemanha. Contudo, em comparação com TODOS, houve um aumento mais acentuado da sobrevivência a nível internacional a partir dos anos 2000. Os dados acima foram normalizados por idade.
As crianças entre um e quatro e cinco e nove anos de idade tinham as melhores hipóteses de sobrevivência, enquanto os bebés tinham as piores hipóteses de sobrevivência. As crianças dos 10-14 anos de idade mostraram recentemente uma melhoria.
O prognóstico e também as variações específicas do país do precursor TODOS e TODOS (em geral) foram muito semelhantes.
E a Suíça?
Enquanto o grande vizinho do norte, a Alemanha, é um líder global de acordo com os dados, a Suíça está ligeiramente atrasada. O seu desempenho global é muito bom, joga na liga superior em todo o lado, mas ainda tem espaço para melhorias aqui e ali. Isto é especialmente verdade para TODOS. Se compararmos os dados de sobrevivência combinados para todas as formas de TODOS, a Suíça, por exemplo, com 87,9%, está logo atrás dos países do norte da Europa, Noruega e Reino Unido ou mesmo dos países vizinhos Áustria e França. O líder internacional é a Alemanha com 91,6%.
O que é notável é a melhoria extraordinariamente forte do prognóstico em AML entre 1995-2004 e 2005-2009, de uns bons 53% para 75%. Aqui a Suíça, juntamente com a Tailândia (esta última a um nível global muito mais baixo), entre outros, registou o maior crescimento e as taxas estão a aproximar-se de TODOS. Em 2005-2009 foram 75,2%. A Suíça já quase não é ultrapassada internacionalmente, apenas a Alemanha é novamente ligeiramente superior, com 78,2%. A Suíça também tem um desempenho excepcionalmente bom em leucemia de células B maduras.
Crianças de nações industrializadas favorecidas
De acordo com o estudo, as hipóteses de uma criança afectada vencer a doença dependem fortemente do facto de crescer numa nação industrializada ou num país de baixo ou médio rendimento. Se se considerar que ao mesmo tempo num lugar do mundo, a Colômbia, apenas metade das crianças com TODAS sobrevivem, enquanto noutro lugar, a Alemanha, quase todas sobrevivem, apesar de terem a mesma doença e só diferirem na sua localização, a necessidade de acção torna-se óbvia. O lançamento de programas de tratamento multidisciplinares acessíveis e adaptados localmente é, portanto, crucial.
Fonte: Bonaventure A, et al.: Worldwide comparison of survival from childhood leukaemia for 1995-2009, by subtype, age, and sex (CONCORD-2): um estudo baseado na população de dados individuais de 89 828 crianças de 198 registos em 53 países. The Lancet Haematology 2017; 4(5): e202-e217.
Literatura:
- Ferlay J, et al: Cancer incidence and mortality worldwide: sources, methods and major patterns in GLOBOCAN 2012. Int J Cancer 2015; 136: e359-e386.
- Coleman MP, et al: Sobrevivência do cancro nos cinco continentes: um estudo baseado na população mundial (CONCORD). Lancet Oncol 2008; 9: 730-756.
- Allemani C, et al: Global surveillance of cancer survival 1995-2009: análise de dados individuais de 25 676 887 pacientes de 279 registos populacionais em 67 países (CONCORD-2). Lancet 2015; 385: 977-1010.
- Magrath I, et al: Cancro pediátrico em países de baixos e médios rendimentos. Lancet Oncol 2013; 14: e104-e116.
InFo ONCOLOGy & HEMATOLOGy 2017; 5(6): 3