Pergunta de investigação: O objectivo de um estudo de controlo de casos era investigar até que ponto o uso de benzodiazepinas (BDP) conduz a um risco acrescido de ocorrência de demência por Alzheimer. A dose total acumulada de BDP tomados e síndromes de pródromes como a ansiedade, depressão e distúrbios do sono foram incluídos como covariates.pt.
Antecedentes: Aproximadamente 36 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem actualmente de demência. Devido às tendências demográficas, espera-se que este número duplique cerca de 20 em 20 anos. Em 2050, 115 milhões de pacientes com demência são esperados em todo o mundo, o que significa consequências sociais de longo alcance e custos elevados. Uma vez que ainda não existem terapias altamente eficazes, a prevenção é essencial. Já está bem estabelecido que os BDPs podem levar a perturbações cognitivas passivas. Alguns estudos também sugeriram uma possível ligação entre a demência e a utilização do BDP – mas ainda têm fraquezas metodológicas.
Pacientes e métodos: Este estudo de caso-controlo incluiu 1796 pacientes com um diagnóstico inicial de AD e acompanhou-os durante seis anos até ao momento da avaliação. Além disso, 7184 sujeitos de controlo, combinados por sexo, idade e duração do seguimento, foram incluídos na análise e acompanhados e examinados em conformidade. Além disso, variáveis confusas como diabetes mellitus, hipercolesterolemia, SIDA/HIV e outras doenças foram tidas em conta.
Resultados: A utilização de BDP foi significativamente associada a um risco acrescido de desenvolvimento de AD (odds ratio 1,51 [1,36–1,69]). Se a ansiedade, depressão e distúrbios do sono forem considerados como covariáveis, o resultado continua a ser significativo (OR 1.43 [1,28–1,60]). O risco de desenvolver a demência de Alzheimer quando se toma BDP aumenta com a semi-vida do BDP tomado (OU para BDP 1,70 de acção prolongada; para BDP 1,43 de acção curta), e existe também uma relação dose-resposta significativa. Se forem tomadas 91-180 doses diárias de BDP, é encontrado um OR de 1,32 (1,01-1,74); em >180 doses diárias, o risco aumenta ainda mais (OR 1,84 [1,62–2,08]).
Conclusões dos autores: O consumo de BDP foi significativamente associado a um aumento do risco de desenvolvimento da doença de Alzheimer (aumento do risco de 43-51%). Uma vez que o risco aumenta com o aumento do consumo cumulativo de BDP, os BDPs poderiam ser directamente responsáveis. A utilização descuidada a longo prazo do BDP deve, portanto, ser encarada de forma crítica.
Comentário: O estudo, como quase todos os estudos, tem limitações: Os investigadores só tinham acesso a uma base de dados, não directamente aos pacientes. Se o diagnóstico foi feito incorrectamente ou com um atraso, isto distorce os resultados. Poder-se-ia ainda notar que os défices cognitivos associados à utilização do BDP podem ter sido mal interpretados como demência. Em resumo, contudo, os pontos fortes do estudo superam as desvantagens: número muito elevado de casos, longo período de observação, relação dose-risco e controlo de covariáveis importantes. O resultado é apoiado por outros cinco estudos e existem várias explicações biológicas para o mesmo: por exemplo, a redução dos receptores BDP correlaciona-se com défices cognitivos. Além disso, a utilização a longo prazo reduz a capacidade de reserva cognitiva do cérebro.
Embora os BDPs tenham benefícios importantes no tratamento agudo de, por exemplo, perturbações da ansiedade ou do sono, tendo em conta os resultados actuais (e as recomendações das directrizes internacionais), a terapia BDP deve ser dada apenas por um curto período de tempo, ou seja, não mais do que três meses.
InFo NEUROLOGIA & PSYCHIATRY 2016; 14(4): 29