Os contraceptivos orais impediram cerca de meio milhão de casos de cancro endometrial em nações industrializadas nos últimos 50 anos. Esta é a conclusão de uma meta-análise em grande escala de 36 estudos epidemiológicos.
O conjunto de dados do estudo de controlo de casos britânico consistiu num total de 27.276 mulheres com e 115.743 mulheres sem cancro endometrial. A idade média era de 63 anos. A duração média do uso de contraceptivos orais foi de três anos na amostra do caso e de 4,4 anos na amostra de controlo. No total, 35% do primeiro grupo tinha tomado a pílula (“ever-users”), no segundo grupo 39%. As regiões geográficas representadas nos estudos incluíram a Europa, Ásia, Austrália, América do Norte e África do Sul.
Maior ingestão – maior redução do risco
A questão do efeito dos contraceptivos orais sobre a incidência do cancro endometrial não é nova. Uma relação de protecção já foi demonstrada em estudos anteriores. Ainda não se compreende completamente quanto tempo dura o efeito protector após a paragem da pílula e que outros factores influenciam a associação. O estudo actual mostra as seguintes conclusões:
- Quanto mais tempo uma mulher toma contraceptivos orais, menor é o seu risco de cancro endometrial. A cada cinco anos de prorrogação do consumo, o risco foi significativamente reduzido em 24% (RR 0,76; 95% CI 0,73-0,78; p<0,0001).
- Nos países industrializados de elevado rendimento, os investigadores calcularam uma redução absoluta do risco de 2,3 para 1,3 por 100 mulheres antes dos 75 anos de idade, após dez anos de uso de contraceptivos. Enquanto 23 das 1000 mulheres que se abstiveram completamente de tomar a pílula contraceptiva adoeceram, o mesmo destino recaiu sobre 13 das 1000 mulheres que tinham tomado a pílula durante mais de dez anos.
- A força da redução do risco através do uso de contraceptivos orais depende de vários factores. O tipo de tumor desempenha um papel importante: os carcinomas são prevenidos em maior medida do que os sarcomas. Os rácios de risco associados foram de 0,69 (95% CI 0,66-0,71) e 0,83 (0,67-1,04). Esta diferença dentro do grupo de casos foi significativa (p=0,02).
- Em contraste, a dose de estrogénio, que era significativamente mais elevada nos primeiros anos da introdução da pílula, não teve qualquer influência. Os comprimidos de hoje, que contêm muito menos estrogénio, protegem tão bem como os comprimidos da geração mais velha.
- A redução do risco continuou durante mais de 30 anos após a paragem da pílula. As mulheres que tomaram a pílula na casa dos vinte anos ainda beneficiavam da protecção acima mencionada quando tinham mais de 50 anos.
Numerosos casos de doença evitada
Os autores concluem que a pílula já preveniu cerca de 400 000 casos de cancro endometrial antes dos 75 anos de idade nos últimos 50 anos desde 1965, 200 000 dos quais só na última década.
Fonte: Collaborative Group on Epidemiological Studies on Endometrial Cancer: Endometrial cancer and oral contraceptives: an individual participant meta-analysis of 27 276 women with endometrial cancer from 36 epidemiological studies. The Lancet Oncology 2015.
InFo ONCOLOGy & HEMATOLOGy 2016; 4(1): 6