A taxa de mortalidade causada por doenças neurodegenerativas está de facto a aumentar nos futebolistas profissionais? Este foi o resultado de um estudo de coorte retrospectivo que foi recentemente publicado no “The New England Journal”. Como pode o risco ser explicado clinicamente?
7676 antigos futebolistas profissionais foram comparados com mais de 23.000 controlos por parte da população em geral. Durante o período de observação de 18 anos em média, 1180 dos profissionais (15,4%) e 3807 (16,5%) dos controlos morreram. A avaliação das causas de morte forneceu conhecimentos interessantes: até aos 70 anos de idade, a taxa de mortalidade global era mais baixa no grupo do futebol – depois disso, porém, era mais elevada do que na população em geral. A mortalidade cardiovascular foi significativamente menor e o cancro do pulmão também foi significativamente menos frequente. No entanto, a taxa de doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson, a doença dos neurónios motores, a doença de Alzheimer e outras demências era significativamente mais elevada. No total, 1,7% dos antigos futebolistas tiveram um diagnóstico principal neurodegenerativo registado na certidão de óbito, mas apenas 0,5% do grupo de controlo (p<0,001). Foi principalmente a doença de Alzheimer que foi diagnosticada. No grupo de comparação, a taxa de mortes relacionadas com Alzheimer foi de 0,2%, enquanto que nos antigos futebolistas foi quatro vezes superior (0,8%). Consequentemente, também tomaram mais medicamentos para a demência do que os controlos da população em geral. Os jogadores de campo foram prescritos com mais frequência do que os guarda-redes. Em termos de mortalidade, contudo, o estatuto de jogador não fez diferença.
Se a menor mortalidade global nos anos mais jovens e a menor taxa de doenças cardíacas isquémicas puder ser explicada pelo efeito protector do desporto no sistema cardiovascular, não há explicação médica para as taxas mais elevadas de doenças neurodegenerativas. O pressuposto de que cabeçadas e traumas craniocerebral poderiam levar a um aumento do risco de doenças neurodegenerativas já foi discutido no passado. De facto, a encefalopatia traumática crónica (CTE) resultante de pequenas lesões repetidas na cabeça em vários desportos (boxe, futebol americano, futebol australiano, rugby, futebol, hóquei no gelo) já foi descrita. Isso poderia ser uma explicação possível. Isto porque a tauopatia é encontrada no CTE tal como nas doenças neurodegenerativas. No entanto, é necessária mais investigação aqui para se poder tirar conclusões reais.
Fonte: “Os futebolistas profissionais têm um risco acrescido de demência?”, 30.10.2019, German Society for Neurology e.V.
InFo NEUROLOGIA & PSYCHIATRY 2019; 17(6): 5