O pseudoxantoma elástico (PXE), também conhecido como síndrome de Grönblad-Strandberg, é uma doença hereditária rara que afecta principalmente a pele, os olhos e o sistema vascular arterial. O diagnóstico precoce é crucial para o tratamento atempado das complicações extracutâneas.
A PXE é causada por mutações na proteína 6 do transportador de cassetes de ligação ao ATP (ABCC6). A prevalência estimada a nível mundial situa-se entre 1:25.000 e 1:70.000, embora se suspeite de um grande número de casos não detectados devido à dificuldade de diagnóstico [1–4]. Nos estágios iniciais, a pele geralmente apresenta lesões pronunciadas, com manifestações extradérmicas ocorrendo mais tarde [1]. Em 1896, Darier chamou à doença de pele “Pseudoxantoma elástico” [5]. O oftalmologista sueco Ester Grönblad e o dermatologista James Strandberg descobriram uma ligação entre as alterações da pele e do fundo ocular em 1926, razão pela qual a doença é também conhecida pelo sinónimo de síndrome de Grönblad-Strandberg [6].
A PXE é uma doença rara cujo diagnóstico precoce é clinicamente relevante, uma vez que pode estar associada a manifestações cardiovasculares e retinianas. O diagnóstico baseia-se, em primeiro lugar, nos achados histopatológicos e, em segundo lugar, na deteção de uma mutação no gene ABCC6. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais cedo podem ser tomadas medidas preventivas e um acompanhamento rigoroso, o que pode ter um impacto significativo no prognóstico. |
de acordo com [1] |
Os locais de predileção para as alterações cutâneas são o pescoço, os cotovelos, o tronco e a região periumbilical. O diagnóstico baseia-se no exame clínico, na análise histológica das lesões e, se necessário, em testes de genética molecular para detetar a mutação genética. A histopatologia mostra aglomeração e mineralização das fibras elásticas e fragmentação das fibras elásticas na derme média/profunda [2,3]. As manifestações cardiovasculares, como a hipertensão, a angina de peito e a claudicação intermitente, estão entre as principais causas de morbilidade nos doentes com PXE. A aterosclerose precoce pode desenvolver-se devido à mineralização da lâmina elástica interna dos vasos sanguíneos e a uma alteração lipídica com uma redução do nível de colesterol HDL no plasma sanguíneo, bem como hipertrigliceridemia.
Rapariga de 12 anos com alterações papulares
O doente, de origem caucasiana, apresentou-se em novembro de 2016 devido a pápulas amarelas (xantoma) esporádicas, indolores e ligeiramente pruriginosas na região do pescoço, que se desenvolviam há cerca de um ano [1]. As lesões ainda não foram tratadas. A criança não apresentava dor ou sinais de inflamação nas lesões ou nas áreas circundantes e não havia sintomas associados. O doente era saudável, não tomava medicação regularmente e não tinha antecedentes pessoais ou familiares relevantes de dermatoses.
Inspeção: Foram encontradas placas indolores, irregulares, rugosas e amarelas sem sinais de inflamação na região posterior do pescoço, que se espalharam bilateralmente e simetricamente para a região direita e esquerda do pescoço. Dão à pele um aspeto de pergaminho. O resto do tegumento não apresenta alterações.
Biópsia cutânea: Os resultados da biópsia cutânea revelaram fibras aglomeradas e fragmentadas, especialmente na derme média e mais além no núcleo das fibras elásticas. A coloração de Von Kossa pode ser utilizada para provar que se trata predominantemente de depósitos de fosfato de cálcio [7]. Não se registaram indícios de mineralização ou deposição de mucina. Ainda não é claro se a calcificação das fibras elásticas é secundária à fragmentação ou se a fragmentação é a causa primária da calcificação.
Exames complementares: O hemograma com perfil lipídico e o sedimento urinário não apresentavam alterações. O ECG, o ecocardiograma, a ecografia da artéria carótida e das veias e artérias aorto-ilíacas também eram normais e o exame oftalmológico não revelava alterações.
Diagnóstico e evolução: O especialista em patologia decidiu que o teste do gene ABCC6 não era necessário devido ao aspeto clínico das lesões, que eram muito características do PXE. Desde então, o doente tem sido examinado anualmente por oftalmologistas, cardiologistas e dermatologistas. Não foram comunicadas manifestações sistémicas até fevereiro de 2019.
Mutação do gene ABCC6
Em 2000, foram identificadas mutações no gene ABCC6 como a causa da PXE. Até à data, são conhecidas mais de 300 mutações diferentes no gene ABCC6 em doentes com PXE. As mutações mais frequentes são a mutação nonsense p.R1141X (c.3421C>T, rs72653706) no exão 24 e uma deleção dos exões 23 a 29 (c.2996_4208del) em pelo menos um alelo [8].
Literatura:
- Lucas C, et al: Relato de caso: Pseudoxantoma elástico. F1000Res. 2020 Jan 9; 9: 9. doi: 10.12688/f1000research.21431.1.
- Marconi B, et al: Pseudoxantoma elástico e pele: Manifestações clínicas, histopatologia, patomecanismo, perspectivas de tratamento. Intractable Rare Dis Res 2015; 4(3): 113-122.
- Lopes L, et al: Elastólise da derme papilar semelhante a pseudoxantoma elástico. Rev Soc Port Dermatol Venereol 2014; 72: 223-226.
- Plomp, AS, et al: Proposta de atualização do sistema de classificação do pseudoxantoma elástico e uma revisão dos resultados clínicos. American Journal of Medical Genetics 2010; Parte A 152: 1049-1058.
- Grimmer H: [Iconografia histológica. Pseudoxantoma elástico (Darier 1896)]. Z Skin Sex cr. 1961 Abr 1; 30: xxvii-xxx. Alemão. PMID: 13708725.
- Groenblad E: Estrias angióides – pseudoxantoma elástico. Ata Ophthalmologica 1929; 7: 329-329.
- Otkjaer-Nielsen A, et al: Cristais de apatite em pseudoxantoma elástico: um estudo combinado utilizando microscopia eletrónica e análise de difração de área selecionada. JID 1977; 69: 376-378.
- Pfendner EG, et al: Deteção de mutações no gene ABCC6 e análise genótipo-fenótipo numa grande série de casos internacionais afectados por pseudoxantoma elástico. Journal of medical genetics 2007; 44: 621-628.
PRÁTICA DE DERMATOLOGIA 2024; 34(2): 46