As perturbações gastrointestinais funcionais são definidas de acordo com a norma Rome-IV como perturbações da interação intestino-cérebro. As queixas dispépticas são frequentemente acompanhadas por sintomas típicos do intestino irritável, como movimentos intestinais irregulares e flatulência. Uma análise secundária recentemente publicada mostra que a mentacarina – uma combinação patenteada de óleo de hortelã-pimenta e cominho – não só é uma opção de tratamento eficaz e segura para a dispepsia funcional, como também pode beneficiar os doentes com síndrome do intestino irritável concomitante.
A análise secundária publicada em 2023 baseia-se numa pesquisa sistemática na PubMed, na Biblioteca Cochrane e numa base de dados de ensaios clínicos [1]. Foram identificados cinco ensaios clínicos aleatorizados (n=580) nos quais a mentacarina proporcionou alívio dos sintomas na dispepsia funcional (DF) em comparação com placebo ou uma substância de referência (cisaprida) (Tabela 1) [1]. Em sete outros estudos, o fitoterápico também provou ser eficaz em pacientes com DF com síndrome do intestino irritável (SII) concomitante (Tabela 2) [1].
Menthacarin reduz a dor e outros sintomas da DF
Os resultados de ensaios clínicos em doentes com DF demonstram a eficácia da mentacarina (box) no tratamento dos sintomas e do desconforto gastrointestinal, especialmente dor epigástrica e abdominal, flatulência e inchaço [1]. Três estudos controlados por placebo com um total de 249 doentes (conjunto de análise completo, FAS) sobre a mentacarina na DF foram incluídos numa meta-análise [2–4]. Foram observados efeitos significativos a favor da mentacarina tanto em termos de intensidade da dor como na Escala de Impressão Clínica Global. Nos três estudos, a intensidade da dor foi avaliada utilizando uma escala contínua de 6 pontos ou a escala visual analógica (EVA). Houve uma redução significativamente melhor da dor desde a linha de base até à semana 4 para a mentacarina em comparação com o placebo (diferença média padronizada 0,80 [95% CI: 0,39-1,21]). Nos três estudos, a melhoria global do estado dos doentes foi medida utilizando a Escala de Impressão Clínica Global. Isto mostrou que um número significativamente mais elevado de doentes no grupo da mentacarina em comparação com o placebo obteve uma melhoria significativa no item 2 do CGI na semana 4 (RR 2,65 [95% CI: 1,81-3,87]).
- Rich et al. 2017 [2]: Este estudo prospetivo, multicêntrico e controlado aleatoriamente investigou os efeitos da mentacarina (2× 1 cápsula por dia) na intensidade dos sintomas e na qualidade de vida específica da doença em 114 doentes adultos com DF que estavam presentes há pelo menos seis meses. A intensidade dos sintomas foi avaliada utilizando o Índice de Dispepsia de Nepean (SF-NDI). Trata-se de um questionário validado, desenvolvido especificamente para doentes com DF, que contém 42 itens (escala de Likert$) sobre a qualidade de vida relacionada com 17 aspectos-chave da DF e que também permite avaliar a frequência, a intensidade e a gravidade da perturbação de 15 sintomas do trato gastrointestinal superior. Após quatro semanas de tratamento com mentacarina (n=58), os subescores “dor” e “desconforto” do NDI, bem como a pontuação total, melhoraram significativamente em comparação com o placebo (n=56) (p<0,0001).
- May et al. 2000 [4]: Este foi um ensaio duplamente cego, controlado e aleatório, no qual a intensidade média da dor de acordo com a escala visual analógica (EVA)** diminuiu em 2,60 ± 2,44 pontos (média ± DP) ou 40% (pontuação média da EVA na linha de base: 6,50 ± 1,40 pontos) da linha de base ao dia 29 quando tratada com mentacarina (n=48; 2× 1 cápsula por dia). No grupo do placebo (n=48), as pontuações correspondentes de redução da dor foram de 1,46 ± 1,77 pontos ou uma redução de 22% (pontuações de base: 6,71 ± 1,13 pontos). No final do estudo, 66,7% dos pacientes do grupo da mentacarina tiveram uma melhoria muito grande ou grande, operacionalizada pelo item 2 do CGI. No braço placebo, a proporção correspondente foi de apenas 20,8%, o que corresponde a uma diferença significativa em relação ao braço de tratamento (p=0,0001). Além disso, as sensações de pressão e plenitude melhoraram significativamente nos doentes tratados com mentacarina em comparação com o placebo (p<0,0005).
- May et al. 1996 [3]: Este foi um estudo multicêntrico, em dupla ocultação, controlado por placebo, em doentes com DF. Após quatro semanas de tratamento com mentacarina (3× 1 cápsula por dia), tanto a intensidade da dor (escala de 6 pontos: 0=sem dor, 5=dor muito intensa) como as pontuações do item 2 do CGI foram significativamente reduzidas no grupo da mentacarina (n=19) em comparação com o placebo (n=20) (p=0,015 e p=0,008, respetivamente). As sensações de plenitude, pressão e flatulência também foram significativamente reduzidas durante o tratamento.
$ Escala de Likert de 5 pontos (1=nada, 5=extremamente)
** VAS: 0=ausente, 10=intensidade máxima
Menthacarin – combinação de ingredientes activos à base de plantas de alta qualidade Menthacarin contém uma combinação em dose elevada de óleo de hortelã-pimenta e de cominho. A hortelã-pimenta (Mentha×piperita L.) e o cominho (Carum carvi L.) são plantas medicinais com uma longa tradição. O efeito analgésico do óleo de hortelã-pimenta e os seus efeitos relaxantes nos músculos do trato gastrointestinal devem-se à ligação do ingrediente mentol ao recetor do frio (TRPM8). O óleo de cominho tem um efeito carminativo e antiespasmódico, alivia a sensação de plenitude e tem propriedades antimicrobianas e antioxidantes. Isto inibe o crescimento de germes patogénicos sem exercer efeitos negativos sobre as bactérias intestinais desejáveis. |
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Os sintomas da SII também melhoram significativamente
Em resumo, várias análises indicam que a mentacarina melhora tanto a DF como os sintomas da SII:
Cerca de um terço (n=111) dos pacientes com DF nos três estudos mencionados acima [2–4] apresentavam sintomas de SII ao mesmo tempo que a dispepsia funcional. Os dados desta subpopulação de doentes foram incluídos numa análise conjunta [5]. Os sintomas da SII, como a pressão, a flatulência ou a diarreia, foram reduzidos cerca de duas vezes mais com o tratamento com mentacarina do que com o placebo.
Num ensaio aleatório controlado, 200 doentes com SII receberam 1 cápsula de mentacarina ou um placebo duas vezes por dia durante dois meses [6]. Seguiu-se uma sequência de um mês em que todos os participantes do estudo receberam mentacarina. A dor abdominal, o desconforto, as cólicas, a flatulência e o inchaço melhoraram após quatro e oito semanas de tratamento. No entanto, devido à heterogeneidade das amostras do estudo, o nível de significância estatística não foi atingido. De acordo com os autores, os doentes com SII do subtipo diarreia beneficiam particularmente da mentacarina. O tratamento de 12 semanas foi considerado bem tolerado e seguro [6].
Um estudo multicêntrico aberto de quatro semanas investigou os efeitos terapêuticos da mentacarina em 2148 doentes (idade média 48,4 ± 16,1 anos) com sintomas dispépticos num contexto de cuidados primários (participaram 448 clínicas) [7]. No início do estudo, 53% dos doentes referiram sofrer de dor pós-prandial. Esta proporção diminuiu para 7% na semana 4 com o tratamento com mentacarina. Relativamente à dor abdominal nocturna, a taxa diminuiu de 41% para 3%. Enquanto 60% sofria de dispepsia no início do estudo, apenas 1% sofria de dispepsia na semana 4. Relativamente aos movimentos intestinais irregulares e à flatulência, a proporção diminuiu de 22% para 1% e de 51% para 1,5%, respetivamente.
Literatura:
- Madisch A, et al: Menthacarin, uma combinação proprietária de óleo de hortelã-pimenta e óleo de cominho, melhora múltiplas queixas em pacientes com distúrbios gastrointestinais funcionais: uma revisão sistemática e meta-análise. Dig Dis 2023; 41(3): 522-532.
- Rich G, et al: Um ensaio aleatório controlado por placebo sobre os efeitos da Menthacarin, uma preparação patenteada de óleo de hortelã-pimenta e cominho, nos sintomas e na qualidade de vida em pacientes com dispepsia funcional. Neurogastroenterol Motil 2017; 29(11): e13132.
- May B, et al.: Eficácia de uma combinação fixa de óleo de hortelã-pimenta/óleo de alcaravia na dispepsia não ulcerosa. Arzneimittelforschung 1996; 46(12): 1149-1153.
- May B, Köhler S, Schneider B: Eficácia e tolerabilidade de uma combinação fixa de óleo de hortelã-pimenta e óleo de cominho em pacientes que sofrem de dispepsia funcional. Aliment Pharmacol Ther 2000; 14(12): 1671-1677.
- Madisch A, et al.: Eficácia da Menthacarin nos sintomas da síndrome do intestino irritável. Wien Med Wochenschr 2019; 169(5-6): 149-155.
- Madisch A, et al: Eficácia e tolerabilidade da mentacarina em doentes com síndrome do intestino irritável: resultados de um estudo aleatório, em dupla ocultação, controlado por placebo. Z Gastroenterol 2019(57): e379.
- Senf K, Laux P, Friedland T: Terapia com plantas medicinais: a dispepsia funcional em foco. The Bavarian Internist 1998(3): 1-4.
- Lacy BE, Patel NK: Critérios de Roma e uma Abordagem Diagnóstica à Síndrome do Colón Irritável. J Clin Med 2017 Oct 26; 6(11).
- Stanghellini V, et al: Roma IV – Perturbações Gastroduodenais. Gastroenterologia 2016 pii: S0016-5085(16)00177-3.
- Medix: www.medix.ch/wissen/guidelines,(último acesso em 28.06.2023)
- Deutsche Apothekerzeitung (DAZ): DAZ 2018 (9): 73, 01.03.2018.
HAUSAZT PRAXIS 2023; 18(7): 18-19