Objectivo: O estudo COPOUSEP publicado no Lancet investiga se a administração oral de metilprednisolona em doses elevadas é inferior à administração intravenosa.
Antecedentes
O padrão de cuidados geralmente aceite para um episódio agudo de esclerose múltipla (EM) é a metilprednisolona intravenosa de alta dose. Uma Cochrane Review publicada em 2012 considerou cinco estudos que investigaram a terapia intravenosa versus esteróide oral para o tratamento de uma recidiva de EM. Não foi encontrada qualquer diferença significativa nos resultados clínicos, radiológicos ou farmacológicos. Contudo, entre outras limitações, foram apontados o pequeno número de casos e as diferenças metodológicas.
Pacientes e metodologia
Trata-se de um ensaio multicêntrico, aleatório, duplo-cego e não-inferioritário conduzido em 13 centros de EM em França. O estudo incluiu 199 pacientes com uma recaída aguda de EM (deterioração funcional por pelo menos um ponto na escala de Kurtzke) que foram tratados com 1000 mg de metilprednisolona diariamente por administração oral ou intravenosa durante três dias no prazo de 15 dias após o início dos sintomas. Todos os pacientes receberam também uma solução intravenosa de NaCl ou comprimidos de placebo durante o mesmo período de tempo. As visitas com avaliação EDSS e FSS tiveram lugar no dia 1 antes do início da terapia e nos dias 3, 8, 28 e 180. Em caso de nenhuma melhoria antes do dia 28, o tratamento de acordo com o regime acima mencionado foi possível por mais dois dias.
Resultados
Não houve diferença no ponto final primário entre os dois grupos: 81% das pessoas tratadas oralmente e 80% das tratadas por via intravenosa mostraram uma melhoria funcional de pelo menos um ponto na escala de Kurtzke após 28 dias e não necessitaram de mais tratamento com cortisona. Os efeitos secundários nos dois grupos eram comparáveis. Apenas as perturbações do sono ocorreram com maior frequência no grupo dos esteróides orais (77% vs. 64%). O tempo até ao início da terapia foi em média de sete dias em ambos os grupos.
Conclusões dos autores
Os autores conseguiram demonstrar que a ingestão oral de 1000 mg de metilprednisolona durante três dias não é inferior à administração intravenosa. Tanto a melhoria funcional como a tolerabilidade eram comparáveis. Concluem que os resultados podem ter implicações na prática clínica diária (em termos de acesso à terapia, conforto do paciente, bem como custos mais baixos com a terapia oral). Recomendam que a indicação de tratamento seja feita por um médico experiente.
Comentário
Há uma inundação de trabalhos sobre EM (investigação básica, epidemiologia, ensaios de drogas). Este estudo é dedicado a um tema muito relevante para a prática: tratamento de recaída, para o qual existem poucas provas. O estudo responde especificamente a duas questões importantes da prática clínica diária: Deve ser realizada terapia de pulso com esteróides e é possível um regime oral? A resposta: A terapia precoce com esteróides em recidivas clinicamente relevantes faz sentido. O tratamento oral é uma alternativa à administração intravenosa. Uma pequena desvantagem é o facto de a metilprednisolona como comprimido só estar actualmente disponível na dose de 100 mg.
InFo NEUROLOGIA & PSYCHIATRY 2016; 14(1): 22